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Violência doméstica: ações que ajudam mulheres a romper o ciclo de violência

 “Quando eu não tinha mais esperança, já tinha pensamentos suicidas e nem minha mãe acreditou na situação que eu estava vivendo – sem forças (financeiras e psicológicas), após romper o ciclo da violência denunciando meu companheiro – recebi de uma amiga o telefone (Ong Lírios) que me tiraria da letargia e me daria vida nova”, esse é o depoimento de Dalila de Arruda Felfili, vítima de violência doméstica por mais de 2 anos. E no mês dedicado às mulheres, a Coordenadoria de Comunicação, traduz mais uma história para o especial: ‘Violência Doméstica: uma tragédia anunciada, as ações que mudam a realidade’.
 
A história de Dalila é mais um exemplo de como as mulheres têm dificuldade de romper verdadeiramente o ciclo de violência doméstica. “Ele já havia me surrado com a mangueirinha do chuveiro, quando eu ainda estava grávida. Enforcava-me e batia de forma sutil, não ficavam marcas explicitas. Descobri traições, pornografia no celular, afastamento financeiro e sentimental. Quando decidi denunciar nem minha mãe me apoiou, ninguém próximo acreditou em mim. Se não fosse as mãos de amigos e desconhecidos hoje eu já teria ceifado minha própria vida”, narra a vítima das agressões.
 
Conforme explicou a defensora pública do Estado de Mato Grosso, Rosana Leite. “Em geral, quando essas mulheres saem de um relacionamento abusivo, muitas não tem a quem recorrer nem para onde ir. Elas estão em um momento de vulnerabilidade, medo do agressor e precisam de um lugar para se amparar. É uma necessidade, é uma política pública importante e essas mulheres que entram em uma casa de amparo não podem sair de lá sem uma transformação. Por isso a casa precisa manter serviços como cursos de capacitação, e palestras motivacionais e de empoderamento”, ponderou a defensora.
 
Quando há mãos para amparar - O poder Judiciário de Mato Grosso (TJMT), por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica (Cemulher), é um incentivador e dá apoio a ações como a Casa de Amparo de Cuiabá. As mulheres que não tem para onde ir podem contar com o programa, que abriga as vítimas por tempo indeterminado. As amparadas contam com 20 cursos profissionalizantes ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT).
 
A coordenadora da Casa, Fabiana Soares, explicou que o local tem a finalidade de amparar essas mulheres vítimas de agressões e violência doméstica. “Elas não têm para onde ir. Damos a proteção e segurança para que não percam suas vidas. Fazemos a identificação dessas mulheres, passamos a assistente social, verificamos as crianças e a encaminhamos para outras escolas. Além de atividades lúdicas, roda de conversas”, pontou.
 
A permanência na unidade é por período indeterminado. Após essa temporada critica e na qual a mulher corre risco de vida, elas são reinseridas no convívio social. São 18 leitos, espaço de convívio social, 3 banheiros e apoio de psicóloga, assistente social e cozinheira. As mulheres abrigadas têm rodas de conversas com estagiárias de psicologia e serviço social, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e laborterapia, um método psicoterápico em que se usa o trabalho manual para afastar os malefícios da desocupação e da ociosidade.
 
Luz às trevas por meio da Constelação O poder judiciário também oferece fortalecimento e apoio às mulheres por meio das constelações sistêmicas. O juiz da Primeira Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher de Cuiabá, Jamilson Haddad Campos, conta que os encontros reúnem as mulheres vítimas para que entendam o ciclo da violência. Além disso, elas também são incentivadas as tomar consciência dos injustificáveis relacionamentos abusivos. “Queremos que elas se empoderem e rompam com esse ciclo de violência, não mais se relacionem com pessoas desestruturadas e que saibam que esse emaranhado é vinculante, às vezes tem codependência, mas que nada justifica a violência”, disse o juiz.
 
Conforme o magistrado, o objetivo é trazer ao conhecimento destas mulheres os efeitos da repetição dos ciclos da violência, o impacto que isso provoca na vida dos filhos, porque as dificuldades de romper com esse relacionamento. A Primeira Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá faz em média de 8 a 12 audiências por dia com mulheres vítimas de violência domésticas, além das audiências coletivas que reúnem de 30 a 40 mulheres.
 
ONG LíriosApós uma audiência pública, na Câmara de Várzea Grande, sobre a violência doméstica um grupo de amigas decidiu que iriam ‘arregaçar as mangas’ em prol da proteção às mulheres vítimas em vulnerabilidade. “Foi assim que criamos a ONG Lírios. O nosso foco é trabalhar a saúde mental dessas vítimas, pois, é um momento muito difícil que elas precisam de apoio. As mulheres chegam muito fragilizadas, por indicação da Defensoria e do Judiciário. Precisamos dar fortalecimento para que essas mulheres fechem esse ciclo de fragilidade”, disse a assistente social e voluntária da ONG, Renata Rodrigues de Moraes.
 
Foi por meio da ONG que a vítima Dalila, encontrou novos caminhos. “Depois que passei a frequentar as consultas com a psicóloga pude me refazer. Vi que aquela mulher poderosa que era antes desse relacionamento abusivo, ainda vive em mim. Agora mais forte, posso dar seguimento a minha vida e consegui recuperar a autoestima perdida ao longo do tempo de abusos e depreciações”, disse.
 
Ong Lírios está instalada na rua da Fraternidade, número 01, no bairro Jardim Imperador II, em Várzea Grande. Mais informações pelo telefone (65) 9 9233-5440.
 
Patrulha Maria Da Penha - A Polícia Militar realiza visitas regulares às mulheres que sofreram violência doméstica e que requereram medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha (11.340/2006). A partir do primeiro encontro, a equipe definirá a continuidade das próximas visitas, juntamente com as vítimas atendidas. Esse acompanhamento pode resultar na prisão em flagrante do agressor caso haja descumprimento de medidas protetivas de urgência. Além da PM, uma rede multidisciplinar atua em conjunto, como Poder Judiciário, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Polícia Civil.
 
As medidas protetivas estão alinhadas com as ações da Casa de Amparo, que oferece retaguarda às vítimas e filhos das mulheres agredidas. Com a Patrulha o agressor vai saber que está sendo fiscalizado e a vítima terá maior segurança com rondas na casa, visitas frequentes evitando, assim, reincidência e a possibilidade menor de um feminicídio.
 
Ulisses Lalio
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br
(65) 3617-3394/3393/3409
 

19/03/2019 14:08