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Ribeirinho: ação em São Lourenço de Fátima busca resgatar dignidade de idoso

Olhando de fora, a casa de seu Divino Alves Borges parece estar abandonada, com muito lixo amontoado em frente e plantas desordenadas que mais parecem um matagal. Quando se entra na casa, a situação é ainda pior: as condições de higiene são precárias, a ventilação que transita pela casa é pouca, sendo difícil respirar, não há incidência solar suficiente para evitar doenças e iluminar a casa e, ainda, os vários cachorros, gatos e passarinhos que convivem com ele fazem suas necessidades no chão da sala, tornando o ambiente mais insalubre.
 
Seu Divino tem apenas 55 anos, porém sofre de dores constantes nas pernas e no joelho que o deixam incapacitado para trabalhar. Ele conta que sempre trabalhou na lavoura e no garimpo, mas depois que começou a ficar “entrevado” não consegue mais se movimentar com tanta agilidade e nem por muito tempo. Quanto à sujeira da casa, ele fala que sabe que não é o ideal, mas não se importa porque tem que cuidar dos animais.
 
“Eu já trabalhei bastante em lavoura e em garimpo, até na Serra Pelada eu já trabalhei, mas hoje não aguento mais e tenho que viver da ajuda dos outros e do valor do Bolsa Família, que eu uso para pagar água e luz. Não era o que eu queria, mas a vida da gente às vezes toma um rumo que a gente nem espera. A casa é própria, comprei quando vim pra cá. Eu já vivi de outra forma, nunca fui rico, mas vivia melhor que agora, até que cheguei nessa situação.”
 
Durante a visita do Poder Judiciário em São Lourenço de Fátima, por meio do projeto Ribeirinho Cidadão, o juiz responsável, José Antonio Bezerra Filho, foi chamado até a casa para auxiliar e ajudar seu Divino. Chegando lá, o magistrado ficou chocado com a situação sub-humana vivida por ele.
 
“Esse é mais um caso chocante registrado nas ações do Ribeirinho Cidadão. É o Judiciário chegando em uma fronteira de condições sub-humana, de dignidade e princípios constitucionais que sequer são zelados. Tomamos conhecimento do caso de seu Divino, chamamos a assistência social presente no projeto, verificamos todas as condições familiares e verificamos que é uma pessoa isolada no mundo, sozinha e que só tem os cuidados de uma vizinha. Constatamos ainda que ele vive em uma situação bem degradante para um ser humano, vivendo em meio à sujeira, com animais dentro de casa, inclusive presença de ratos dentro do quarto.”
 
Ainda segundo o juiz, assim que acabar essa situação de isolamento social por conta da Covid-19, outras ações serão tomadas, dentre elas, a Defesa Civil, parceira na realização do Ribeirinho, irá promover um mutirão de limpeza na casa de seu Divino, dando condições para que ele viva melhor. Também serão buscadas mobílias entre a comunidade e a pastoral de evangélicos para que ele tenha condições dignas continuar dentro da casa.
 
“Enfim, vamos mobilizar a sociedade para dar o suporte necessário. Com essas ações múltiplas, queremos melhorar a dignidade dele como pessoa. Todos nós estamos imbuídos nessa ação e temos que fazer as ações acontecerem. É impossível ignorar que a comunidade aqui é muito carente, mas mesmo assim temos que manter os olhos voltados ao ser humano. Essas informações como a situação por qual passa seu Divino só chegam até nós por conta da confiabilidade que o projeto Ribeirinho Cidadão tem. Quando a notícia chega e a gente adota uma postura diferente, você vê que é possível todo mundo congregar com um só objetivo. Tenho certeza que é possível fazer diferente na vida de seu Divino”, aponta o magistrado.
 
Também presente no local, o defensor público e também organizador do Ribeirinho Cidadão, Joaquim Abinader, ressaltou a necessidade de os parceiros manterem os olhos voltados a essa situação e fazer diferente para mudar a realidade de seu Divino. “A situação dele é muito impactante. Ele veio pedir uma assistência social para poder se manter e, ao conversar com ele, houve vários desdobramentos. Viemos in loco para realmente saber o que acontece no dia a dia de seu Divino e percebemos que até hoje, em pleno século XXI, temos pessoas desassistidas de tudo. Ele não tem irmão e não tem família, só a vizinha que faz caridade e ajuda como pode. Ela inclusive já tentou várias vezes aposentá-lo pelo INSS, mas não consegue por causa da pouca idade e porque a doença dele ainda não teve o diagnóstico fechado totalmente. Dentre as medidas, juntamente com o CRAS de Juscimeira, elegemos a vizinha como cuidadora de seu Divino e ela aceitou prontamente.”
 
A vizinha é Valcilene Marques Prima, 44 anos, dona de casa, que conhece seu Divino há 5 anos. Ela carinhosamente o chama de “Véio” e conta que desde que o viu pela primeira vez, se compadeceu da situação que ele vive. “Eu não tenho pai e nem mãe e quando fui conhecendo o Véio, comecei a gostar dele cada vez mais, pra mim ele é como um pai. Eu fiquei até emocionada de me tornar a cuidadora dele. Na verdade, faz tempo que eu venho estendendo a mão pra ele, lembrando que é preciso comer na hora certa e cuidar mais da saúde. Quando é preciso eu até brigo com ele, mas é com carinho de filha, é pra ver se ele me atende”, explica.
 
Ela ressalta ainda que está feliz com o resultado do trabalho do Judiciário e dos parceiros para que ele consiga receber uma assistência social melhor. “Eu já tinha tentando filmar a situação dele para pedir ajuda, mas não consegui. Foi bom que aconteceu tudo isso. Esses dias eu fiquei sabendo que ele não tinha nem arroz para comer, daí a gente foi atrás de ele conseguir a cesta básica. Agora eu espero que tudo fique mais fácil.”
 
Leia mais sobre o Ribeirinho Cidadão nos links abaixo:
 
 
 
 
 
 
Keila Maressa
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br
(65) 3617-3393/3394
 
 
 

01/04/2020 09:10